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Raras são as vezes em que desfruto com tão bel prazer da deslucidez da minha perceção. Falo de uma sinestesia que nos faz duvidar da ciência e sentirmo-nos muito pequeninos por sabermos que é a nossa compreensão que está errada (e com isto não estará completamente errada).
 

O fruto de tão bel prazer nasce do rosto desta velha mulher - como pode esta dita pele regenerar-se por completo em menos de um mês? Contam-se-lhes os anos contando essas fissuras rasgadas pelas forças tectónicas de toda uma vida. (Como se contam os anéis de crescimento das árvores - e não se fala mais nisso. - que célula se daria ao trabalho de se regenerar já velha?).


(Talvez não esteja eu a contar que possa para isso também contar que)

Quanto mais velhos mais rápido é o tempo a passar.
Mais rápida é a fricção geológica
que faz essas novas células nascerem já mortas. 
 
O tempo é mais rápido
mas os velhos ficam mais lentos.
(Nem se trata aqui da ciência matemática).
Ficamos mais lentos quando somos velhos
porque demoramos mais tempo
a processar, a sentir, a andar, a viver.
 
A ciência não permite atrasos.
Demoramos mais tempo a viver,
a vida passa mais rápido.  
A vida passa mais rápido,
os velhos são mais lentos.
É a triste beleza do tempo,
fazer com que os velhos tenham mais tempo
(porque estão mais lentos
e demoram mais tempo
a processar, a sentir, a andar, a viver).
 
O que demora incomoda,
machuca as expectativas do passar do tempo
que vai abrindo espaços maiores nas nossas células
para a solidão entrar.
 
Regeneram-se num retalho desordenado
aquelas que já nascem mortas.
Afiadas pelo tempo dos seus antepassados,
regem o espaço que o nosso corpo ocupa,
cosem-se numa capa
que tapa a nossa solidão
e o enche no seu vazio
vazio
que se vai sugando
aumentando essas forças tectónicas que abrem fissuras que se rasgam
como facas afiadas pelo tempo
que se demora a processar, a sentir, a andar, a vi



20240226-20240822

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diving

20.08.24

Capture.PNG

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Berlin, 2014

20.08.24

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António Botto

19.08.24

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swimming day

14.08.24

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Scramble

14.08.24

Map of Africa on the year 1880 AD, Before the European "Scramble for Africa"

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Amália

08.08.24
 
 
 
 
 
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Heritage

08.08.24

 

Polish pianist and composer Andre Tchaikowsky bequeathed in his will that his body be donated to science, and his skull given to the Royal Shakespeare Company to be used in theatrical performances.

 

This are photos from Hamlet.

That is Tchaikowsky's skull David Tennant is holding.

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210818/240728

28.07.24

Aqui estou eu novamente, a fugir do mundo (curiosamente a menos de 20km de casa - as close as far can get) para pensar na vida e me mergulhar em vodka (o ópio dos tempos modernos). Sou um dandy deprimido (ou talvez não tenha eu percebido que tal estado seria fundamental no fomento da fome de viver a arte dos outros).

“Só sei que nada sei”, talvez a mais certa das incongruências da filosofia (self explanatory sentence). É que qualquer pensamento, se for complexo o suficiente, acaba sempre nele novamente. Vivemos na ânsia de dar sentido às coisas, mas porque raio as coisas têm de ter um sentido? Inventamos uma lógica para este mundo e chamamos a isso inteligência. Somo tão pequeninos.

Sou apaixonada por tudo o que é abstrato. Entretém-nos procurar o sentido das coisas. Na prática gosto mesmo do que é real, concreto, seguro. Lógico.

Sempre cresci com ideais de mudar para algo melhor, deixar este mundo melhor; não me quero resignar ao que sou - mas onde se encontra essa força que nos faz agir?

Sinto-me anestesiada pela minha própria existência. Que peso é sonhar o que somos. Que peso viver o pouco que somos. Como será sonhar não ser nada? "Só sei que nada sei" é saber demasiado.

 

agosto de 2021

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«não se consegue determinar ao mesmo tempo a posição e o movimento de uma partícula com total precisão»

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Insónia.
De onde vem esse medo de dormir?
Tinha saudades de estar comigo, digo.
Insónia, forçada.
Terei em mim o medo de não acordar?
Talvez seja a preguiça de descobrir os mais intrínsecos medos do meu fundo.
Ou estarei cansada de sonhar.
Cansada, insónia forçada.
Muito que pensar, tarefas por cumprir.
Não é responsável decidir ir dormir com tanto que fazer.
Procrastinação de sono.

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tereza

24.12.23

Era uma vez uma menina. Essa menina era especial porque menina já não parecia, e só os olhos mais atentos a conseguiriam ver por trás do que parecia ser uma já grande mulher. Não seria tão grande assim em altura, mas era enorme na sua força, carácter, perseverança e amor - que gostava de esconder por trás dessa figura de mulher grande e forte. Mas invariavelmente deixava escapar vestígios desse amor em tudo o que fazia, despercebido às gentes de olhares simples, mas bem visível aos que nos seus olhos pequenos e castanhos procuravam descobrir de onde viria tamanha força que levava essa menina mulher fazer as tantas coisas que fazia e que mais ninguém conseguia fazer.

Essa menina, que era menina e era mulher, tinha nome de fruto da terra. Diziam no lugar de onde vinha "terra dá, terra come", e o seu nome era o que se colhia do que a terra oferecia. As origens do seu nome não são muito longe desse lugar, mas um nome assim sonante e tão cheio de vida acabaria depois por proliferar pelas terras mais longínquas e desconhecidas, e ser personificado em grandes mulheres que ajudaram a marcar a sua historia.

Conta-se que essa historia, da origem desse nome, terá começado entre os povos ibéricos, de Portugal a Itália. Mas é provável que as raizes da sua origem tenham brotado na Grécia onde _theros_ se chamava ao verão, e _therízō_ a colheita dos frutos que nele amadureciam.

Tereza era o seu nome. Arcaico para o seu tempo, esse nome crasso não só profetizava tratar-se esta de uma alma antiga, como espelha vestígios que remontam às suas origens. Nascida entre lugares cheios de vida e parcos em letras, assim foi registado o nome que lhe confere a existência aos olhos dos livros das pessoas da terra. Contam que o seu nome a apelido foram escritos dessa forma arcaica por engano e ignorância de quem essas letras desenhou. Porém, existem rumores de que quem esse nome escolheu desses erros se teria apercebido, mas considerando que os erros são subestimados na sua importância preferiu ignorá-los para lhes dar valor e serem parte da história desta Tereza, que era tão diferente das restantes Teresas.

Tereza não encontrava grande interesse em lavrar os campos. Via neles uma prisão que detinha nesse mesmo lugar a vida inteira das pessoas que dele subsistiam e dele nunca saíam. Chegou a ouvir-se um dos seus vizinhos zombar que quem o seu nome escolheu se terá deixado enganar, nunca se vira esta Tereza em campo algum trabalhar, nem tão pouco colher o que a terra tem para dar.

Cedo fugiu desses lugares onde se tirava da terra e se lhe dava de comer. Seriam necessários muitos verões passar para se perceber o que realmente queria esta Tereza colher. A menina chegou a adormecer de tanto esperar e foi deixando amadurecer-se entre ingenuidades e sonhos que a levariam querer sulcar os campos sociais e humanos. Via nos seus passados a injustiça da sorte, reconhecia o apoio e o investimento que nela fizeram e quis devolve-lo lutando para que a sorte fosse mais justa para todos os outros.

Tereza colhia as ideias que traçavam os trilhos dessa luta, mas rapidamente percebeu que todos os caminhos que percorria não a levavam ao destino que procurava. Como poderia tornar a sorte mais justa se as ideias que colhia nesses caminhos a levariam constantemente questionar se seria justa uma sorte caridosa e benevolente?

Cansada e perdida dessas rotas, deixou levar-se pela sua própria sorte. Se o mundo é tão injusto para tantos e nenhum destes caminhos segue nessa direção, em nome de todos os outros que tanto azar tinham com a sorte, Tereza percebeu que também por eles teria ela de aproveitar todas as oportunidades que nesses trilhos surgiam. Mas a sorte são só pequenas clareiras que surgem nos matos e nos dão a possibilidade de sonhar descobrir novos lugares.

Mas os lugares com que sonhava eram dificeis de chegar pois nunca foram traçados os seus trilhos e densos eram os matos que envolviam essas pequenas clareiras que nem sempre voltavam a surgir. Ao sair dos caminhos traçados pelas ideias dos outros, Tereza rompia os emaranhados matos silvestres e calcava novos trilhos que a levavam a descobrir por fim que a sorte dá trabalho mas também se constrói.


Talvez não tivessem escolhido o seu nome em presságio das ricas colheitas da terra, mas pela energia que o verão que as proporcionava. Tereza era de facto verão. Fazia-o ser muito maior despachando a primavera e encurtando o outono. Eram os raios do sol de verão que lhe davam energia para limpar a sua alma, lavando as suas angustias no mar. Mas as melhores coisas da vida são tão belas como perigosas, e por isso Tereza vivia a dicotomia de se libertar entre as ondas do mar e o terror de nele se ficar.

Tereza era diferente porque sonhava de uma forma sensata, sonhava com os pés na terra. Gostava de sonhar e tinha ideias que mais ninguém tinha, mas mais do que sonhar ela gostava de as concretizar. De que valem os sonhos se eles viverem só nas nossas cabeças? Por isso guardava os seus sonhos mais destemidos em gavetas, que ao longo do seu caminho abria procurando descobrir aquelas que teriam guardados os sonhos que estariam ao seu alcance concretizar.

Um dia, ao vasculhar essas gavetas, encontrou algures a coragem de semear e gerar um novo ser. Ponderava se seria justo trazer ao mundo alguém que com ela iria partilhar por herança algumas das suas cicatrizes, e acabou por seguir o seu instinto, entretendo a sua consciência com a ideia de que haveriam sempre cicatrizes maiores dos que as suas, que essas cicatrizes não a impossibilitam de sonhar e continuar a procurar chegar aos lugares onde deseja estar.

Lembrou-se novamente desses primeiros caminhos que percorreu na luta por uma sorte mais justa, e sentia-se agora responsável pela sorte deste novo ser. Começou por mostrar os caminhos por onde andou e os trilhos que traçou, mas sabia que o mais importante seria aprender a procurar as clareiras que deles se avistam. Mas de que forma poderá alguém aprender a romper emaranhados de matos silvestres e calcar novos trilhos sem com isso ganhar também cicatrizes? Terá sido com o passar do tempo que percebeu finalmente o que o instinto lhe queria dizer na altura. As cicatrizes que moldam o nosso ser tornam-no mais forte. Pobremente vazios são os corpos perfeitos que não tendo cicatrizes, não têm história.

Foram precisos alguns séculos e muitos verões para finalmente surgir uma Tereza que nos fez perceber o que esse nome queria dizer. Teresa não era apenas o verão nem o ato de colher o que a terra dá. Talvez os gregos dessem mais valor ao verão onde se colhia os melhores frutos do ano, mas nada se pode colher se nada se semear. Não existe verão se não houver primavera, nem primavera sem inverno. Teresa quereria dizer colheita, mas o seu papel mais importante era o de semear ideias todo o ano. Sonhava com os frutos que viriam nascer e arriscava constantemente entrar em campos que desconhecia, onde, guiada pela sua forte intuição, neles deitava o que melhor tinha para oferecer, convidando todos à sua volta para no verão com ela colherem esses que seriam os frutos das suas ideias.

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